Ementa

INSTITUI A "SEMANA DA MÚSICA" NO MUNICÍPIO DE CABO FRIO.

Justificativa

PROJETO DE LEI Nº 075/2007 EM 09 DE JULHO DE 2007.

INSTITUI A “SEMANA DA MÚSICA” NO MUNICÍPIO DE CABO FRIO.

A CÂMARA MUNICIPAL DE CABO FRIO, NO USO DE SUAS ATRIBUIÇÕES LEGAIS,

RESOLVE:

ARTIGO 1° - FICA INSTITUÍDA A “SEMANA DA MÚSICA” NO MUNICÍPIO DE CABO FRIO.

ARTIGO 2° - A “SEMANA DA MÚSICA” SERÁ COMEMORADA NO MÊS DE SETEMBRO, TENDO SEMPRE COMO DATA PRINCIPAL O DIA 07, FUNDAÇÃO DA SOCIEDADE MUSICAL SANTA HELENA, MARCO DA HISTÓRIA DA MÚSICA E CULTURA EM CABO FRIO.

ARTIGO 3° - A “SEMANA DA MÚSICA” TEM COMO OBJETIVO O FORTALECIMENTO DA IDENTIDADE MUNICIPAL, SENSIBILIZANDO O CIDADÃO PARA A IMPORTÂNCIA DO PATRIMÔNIO CULTURAL DO MUNICÍPIO.

ARTIGO 4° - A “SEMANA DA MÚSICA” PROMOVERÁ SEMPRE A PROTEÇÃO, SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO DA MÚSICA, ESTIMULANDO CONCURSOS, EVENTOS MUSICAIS, PRÊMIOS, BOLSAS DE FORMAÇÃO PARA CRIAÇÃO E EDUCAÇÃO MUSICAL.

ARTIGO 5° - A “SEMANA DA MÚSICA” DE CABO FRIO PASSA A SER INCLUÍDA NOS CALENDÁRIOS OFICIAIS DE EVENTOS DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE CULTURA E TURISMO, RESPONSÁVEIS PELA ELABORAÇÃO DOS PROGRAMAS ALUSIVOS.

ARTIGO 6° - ESTA LEI ENTRARÁ EM VIGOR NA DATA DA SUA PUBLICAÇÃO, REVOGADAS AS DISPOSIÇÕES EM CONTRÁRIO.

SALA DAS SESSÕES, 09 DE JULHO DE 2007.

ALEXANDRE LUIS SANT’ANNA

VEREADOR-AUTOR

JUSTIFICATIVA:

DESDE OS IDOS TEMPOS QUE ANTECEDERAM O ANO DE 1840, DUAS BANDAS DE MÚSICA MARCARAM UM HISTÓRICO PERÍODO NA CIDADE DE CABO FRIO: A SOCIEDADE MUSICAL LIRA LUSO-BRASILEIRA E A SOCIEDADE MUSICAL EUTERPE CABO-FRIENSE; REGIDAS, ENTRE OUTROS, POR SEUS RESPECTIVOS MESTRES: O CONSAGRADO ERNESTO NERY E O TALENTOSO AMARO. FAMOSAS POR TRADICIONAIS DESAVENÇAS, VIVIAM SOB A ÉGIDE DE SEUS PARTIDOS POLÍTICOS QUE A REPRESENTAVAM: A LIRA LUSO-BRASILEIRA PELO PARTIDO CONSERVADOR E A EUTERPE CABO-FRIENSE PELO PARTIDO LIBERAL.

UMA ANTIGA CASA, À RUA TEIXEIRA E SOUSA, AO LADO DA RESIDÊNCIA DE LUIZ CARDOSO, ATENDIA COMO SEDE, INICIALMENTE, A EUTERPE CABO-FRIENSE, ENQUANTO A LIRA LUSO-BRASILEIRA DESFRUTAVA DA SUA, À PRAÇA PORTO ROCHA NA ANTIGA SEDE DO TAMOYO ESPORTE CLUBE, HOJE, BANCO CREDI LAGOS.

DEVIDO ÀS RIVALIDADES DE SUCESSIVAS DISPUTAS, ONDE O COLIDENTE CORPO-A-CORPO ERA, MUITAS VEZES, O DESAFIO DAS IMPETUOSAS HOSTILIDADES, NÃO TARDOU A SOCIEDADE EUTERPE CABO-FRIENSE, RECEBER, PEJORATIVAMENTE, A ALCUNHA DE “JAGUNÇOS”, À REPRESENTAÇÃO DE SUAS CORES, VERMELHO E BRANCO. E, EM REVIDE, A SOCIEDADE LUSO-BRASILEIRA, “LIRA DOS CONSPIRADORES, NAS CORES, VERDE-AMARELO”.

LIRAS E JAGUNÇOS, JÁ HAVIAM SELADO SEUS ANTAGONISMOS, RECRUDESCENDO AINDA MAIS SUAS RIVALIDADES, QUANDO EM 1887, FOI ELEITO VEREADOR, DR.CARLOS TOMAZ DE ALMEIDA (LIRA), QUE EXPERIMENTOU OS AMARGORES DA REPÚBLICA, SENDO INCONDICIONALMENTE SUBSTITUÍDO PELO “MAJORITÁRIO CHEFE POLÍTICO”, JONAS GARCIA DA ROSA TERRA QUE, NO ENTUSIASMO DA RESPALDA LIDERANÇA, OUVIU OS ACORDES DA REPRESENTATIVA BANDA EUTERPE, EXECUTAR A MARSELHESA, QUANDO ESTE, “DA JANELA DO PAÇO MUNICIPAL, DESFRALDAVA A BANDEIRA DA REPÚBLICA”.DO TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO “TRAJETÓRIA DA SOCIEDADE MUSICAL SANTA HELENA”, DE AUTORIA DE CÉLIO MENDES GUIMARÃES, COMO UMA EXTRAORDINÁRIA VIAJEM AO PASSADO, CHEGAMOS AO ANO DE 1907, ASSIM NARRADO PELO AUTOR:”A SEQÜÊNCIA DOS ANOS, NÃO PRENUNCIAVA CONTENTAÇÃO AOS PROVOCATIVOS DEBOCHES.

AS INSISTENTES AFRONTAS, AO SABOR DOS LIRAS E JAGUNÇOS, CADA VEZ MAIS ALIMENTAVAM AS HOSTILIDADES QUE, EM TAIS CIRCUNSTÂNCIAS, ALGUMAS FAMÍLIAS NÃO ENDOSSAVAM A UNIÃO MATRIMONIAL ENTRE SEUS FILHOS. ACRESCENTE-SE À DEVIDA OBSERVAÇÃO, QUE OS MAIS FANÁTICOS NEM MESMO PASSAVAM NA RUA DE SEUS DESAFETOS.

O ANO DE 1907 CHEGOU AINDA MAIS ”CARREGADO” PELOS IMPULSOS DA VIOLÊNCIA. UM FATO À INSUSTENTÁVEL TOLERÂNCIA, FUGIRA AOS LIMITES DAS ALTERCAÇÕES, QUANDO O PRESIDENTE DA “LIRA CONSPIRADORA” FORA, POR UM JAGUNÇO, ESBOFETEADO.

ESSE DESAFIO MAIOR FOI O DESENROLAR DE UM TRISTE EPISÓDIO QUE NÃO TARDARA A ACONTECER.

AOS CUIDADOS DE ANTIGOS REGISTROS, APRESENTA-NOS A HISTÓRIA, PARA QUE DELA TIREMOS A ESSÊNCIA DE CONSTATADOS FATOS, ATRAVÉS DAS FIDEDIGNAS PALAVRAS DO MAESTRO WERTHER DE SÁ LENZI, INFORMAÇÕES POR ELE COMPROVADAS, COM ARTIGOS DE RECORTADOS JORNAIS, DO JORNALISTA JOTA EFEGE, RETRATANDO O CONFLITO QUE MARCOU, TALVEZ, UMA DAS MAIORES ATROCIDADES EM MATÉRIA DE CÉLEBRES BANDAS DE MÚSICA DO BRASIL, ENVOLVENDO OS BELICOSOS, LIRAS E JAGUNÇOS:

“ACONTECEU NO DIA 1 DE JANEIRO DE 1907, QUANDO AS CORPORAÇÕES SAÍRAM EM PASSEATA PARA FESTEJAR O ANO-NOVO, NUMA CIDADE BEM DIFERENTE, MUITO MAIS PACATA, DO QUE A DE CABO FRIO DE AGORA, ONDE ERA PRATICAMENTE A ÚNICA OPORTUNIDADE DE DIVERSÃO, POR ISSO MESMO, A DIVIDIAM OS MORADORES EM DOIS PARTIDOS FERRENHAMENTE ANTAGÔNICOS. COMO ACONTECIA EM MACAÉ ENTRE A LIRA DOS CONSPIRADORES E A NOVA AURORA, A DISPUTA PELA PREFERÊNCIA DO PÚBLICO E PELA FIDELIDADE DOS ADEPTOS, OBRIGAVA A LIRA LUSO-BRASILEIRA, E A EUTERPE CABO-FRIENSE PASSAVA, OS LUSOS FECHAVAM AS JANELAS E VICE-VERSA; E NINGUÉM, DE UMA BANDA, IA À PRAÇA QUANDO A OUTRA SOCIEDADE ESTAVA NO CORETO. E, CLARO, QUESTIÚNCULA DE POLÍTICA MUNICIPAL, QUE SE OPUNHAM MESTRES E MÚSICOS DAS DUAS CORPORAÇÕES, SÓ FAZIAM AINDA MAIS ACIRRAR OS ÂNIMOS.

ESSE ARMADO PÉ DE GUERRA EXPLODIU DO DIA 1 DE JANEIRO DE 1907. AS BANDAS HAVIAM DECIDIDO DESFILAR PELA CIDADE, MAS TENDO O CUIDADO DE ESTABELECER PREVIAMENTE ITINERÁRIOS QUE NÃO AS PUSESSEM EM PRESENÇA UMA DA OUTRA. MAS A PRECAUÇÃO NÃO FOI SUFICIENTE: ESTANDO A LIRA PARA SAIR, FAZIA UMA “PASSAGEM” DE SEU REPERTÓRIO, ANTE A PRÓPRIA SEDE, QUANDO O CIDADÃO JOÃO QUERUBIM, ADEPTO DA EUTERPE, RESOLVEU PROVOCAR OS MÚSICOS, FAZENDO PIADAS SOBRE A SUA AFINAÇÃO. OS COMPONENTES DA LIRA DECIDIRAM NÃO AGÜENTAR O DESAFORO E PARTIRAM PARA O EUTERPENSE, PARA ESPANCÁ-LO. AO CONFLITO ACUDIU A EUTERPE INTEIRA, PARA SOCORRER SEU ADEPTO, E ENTÃO SE TRAVOU BRIGA ONDE OS INSTRUMENTOS FORAM AS ARMAS. OS AFILIADOS E SIMPATIZANTES DE AMBAS ENTRANDO NA LUTA BRIGOU A CIDADE INTEIRA. RESULTARAM MUITOS FERIDOS LEVES OU GRAVES. UM DOS COMPONENTES FOI MORTO A TIROS, COMO CONSTATOU O DELEGADO DR. NASCIMENTO E SILVA DE NITERÓI: -‘ ALGUÉM PREVENDO BRIGA, SAÍRA ARMADO, SAÍRA MAIS DO QUE PREVENIDO’. O CASO TEVE REPERCUSSÃO NO PAÍS, E O ‘MALHO’, REVISTA ILUSTRADA CARIOCA, O REGISTROU PUBLICANDO ‘CHARGE’ DE ARTHUR ROCHA, GLOSANDO O CONFLITO EM SUA EDIÇÃO DE 12 DE JANEIRO DE 1907.

ENTRE OUTROS ACONTECIMENTOS QUE MARCARAM TAL RIVALIDADE, FORAM DISSOLVIDAS AS DUAS AGUERRIDAS BANDAS, MAS UMA REENCONTRADA PROMESSA SOPRAVA AS BRASAS DA ESPERANÇA PARA O AUSPICIOSO SÉCULO QUE SE INICIAVA.

SÓ APÓS O DECORRER DE SEGUIDOS ANOS E O PRESTÍGIO POLÍTICO APAZIGUADOR DO CEL. MÁRIO QUINTANILHA E DO CEL. GOUVEIA, AMBOS REPRESENTANTES DE PARTIDOS OPOSTOS, OS EXALTADOS ÂNIMOS CONTINUAVAM ARREFECIDOS, PODENDO A CIDADE TRANQÜILIZAR-SE NA SUA REVIVIDA PAZ.

A CONTEMPORIZAÇÃO E O RESPEITO DESSES HÁBEIS POLÍTICOS, RECONHECIDAMENTE, TROUXERAM QUIETUDE E SERENIDADE A TODOS, VOLTANDO A VIVER SEM OS RANCORES DA TEMEROSA IMPETUOSIDADE.

ENGENHOSOS NO TRATO DAS RIVALIDADES, LOGO FORAM SIMBOLIZADOS COMO TRAÇO DE UNIÃO DAS DUAS MALQUERENTES E EXTERMINADAS BANDAS.

A JUSTIFICADOS VOTOS QUE O POVO EM APREÇO LHES CONFERIU, JUNTARAM OS MÚSICOS DAS DUAS CORPORAÇÕES E SOB A ADMIRAÇÃO DOS AINDA RELUTANTES RIVAIS, FORMARAM UMA OUTRA BANDA, RECEBENDO POR BATISMO, O SUGESTIVO NOME: “GRUPO MUSICAL UNIÃO”, TENDO COMO PARTICIPANTES OS MAESTROS, JOÃO DOS SANTOS, JOSÉ LOYOLA, ERNESTO NERY E OS DESTACADOS MÚSICOS: MATUNGA, JOÃO DA FAZENDA, NICO SAPATEIRO, DODÔ BARBOSA, CHIQUITO LAUDOCÊNIO, RANDOLFO SOBROSA, OSCAR MARINHO REIS, SANTINHO MARQUES, RAUL SHERMAN, ENTRE OUTROS. E, POSTERIORMENTE, OS JOVENS: CLAUDIONOR DA COSTA MARTINS (PEQUENINO), ÁLVARO DE ALMEIDA, CLODOMIRO GUIMARÃES, JAIME SHERMAN, CÂNDIDO TEIXEIRA DE MELLO, FRANCISCO DE SEVERO JOSÉ SANTANA, E ALGUNS AUSENTES QUE NÃO NOS CHEGARAM AOS NOMES.

SOB A REGÊNCIA DE LUMINOSOS SÍMBOLOS, VOLTOU A REINAR A PASSIVIDADE NA AGORA ORDEIRA CABO FRIO.

A BANDA GRUPO MUSICAL UNIÃO, FORMADA PELAS DUAS FACÇÕES POLÍTICAS, FOI PRAZEROSAMENTE RECEBIDA PELA SOCIEDADE LOCAL, LOGO DE INCORPORADO À PASSIVA MENTALIDADE, SUPERANDO AGUERRIDOS CONSERVANTISMOS.

COM UMA SÓ OPÇÃO PARA APRESENTAÇÕES FESTIVAS, ERA CONSIDERADA E, PELO PÚBLICO APLAUDIDA.

A LEMBRANÇA DE ULTRAPASSADA ÉPOCA DILUIU-SE NO PRETÉRITO DA DESESPERANÇA. ATÉ MESMO OS UNIFORMES, DESPEDIRAM-SE DE SUAS CORES DANDO LUGAR AO CÁQUI E, NOS SOLENES DIAS, AO BRANCO, SEM AS SAUDADES DAS AMARGAS REMINISCÊNCIAS,

AGORA TUDO SE AJUSTAVA EM PLENA HARMONIA. AS ESPOSAS GUARDAVAM NA CERTEZA, A CHEGADA DE SEUS ILESOS MARIDOS AO LAR, SEM A PREOCUPAÇÃO DAS CONSTANTES DIVERGÊNCIAS QUE, VEZ POR OUTRA, RESULTAVAM EM CRUENTAS BRIGAS.

A BANDA UNIÃO ERA O SÍMBOLO DA PAZ E DA CONCÓRDIA SOB O DEVOTAMENTO DOS MAIS HÁBEIS DIRIGENTES. QUANDO SOLICITADA PARA DETERMINADA FUNÇÃO, NÃO IMPORTAVA QUAL FOSSE O CONTRATANTE, DEVIDO AO COMPREENSIVO ESPÍRITO DE SOLIDARIEDADE, NÃO SE NUTRINDO MAIS DA ULTRAJANTE DESAVENÇA. ERA UMA INTRODUTIVA CONCEPÇÃO, A TRANSITAR POR APAZIGUANTES RUMOS.

COM PARTICIPAÇÃO ATIVA NA VIDA SOCIAL, O GRUPO UNIÃO FIRMAVA-SE COMO UMA DAS MELHORES BANDAS DA BAIXADA, PELO VALOR DE SEUS COMPONENTES E SELECIONADO REPERTÓRIO, INCLUINDO-SE A ESTES, COMPOSIÇÕES DO MAESTRO JOSÉ LOYOLA (MÍMICA), ERNESTO NERY, ARQUIMIMO DE SANT’ANNA E OUTROS.

O RECONHECIMENTO AOS DOIS CHEFES POLÍTICOS, FICOU NÃO PATENTEADO NÃO UNICAMENTE AOS TRIBUTOS DO POVO, MAS TAMBÉM, E PRINCIPALMENTE, DOS MÚSICOS QUE A BANDA COMPUNHAM. ESTA PROVA DE INTEGRADO VALOR, MELHOR QUE NÓS, EXPRESSA O JORNAL LOCAL, O INDUSTRIAL, DATADO EM 10 DE OUTUBRO DE 1926, SOBRE O QUAL PUBLICAMOS A MATÉRIA, MANTENDO A GRAFIA ORIGINAL:

“FOI CELEBRADA BRILHANTEMENTE AS BODAS DE PRATA DO SR. MÁRIO QUINTANILHA E D. AMÁLIA QUINTANILHA. AO ALVORECER DO DIA 8 FOMOS DESPERTADOS POR LONGO ESPOLCAR DE FOGUETES E HARMONIOSO SOM DA “BANDA MUSICAL UNIÃO”, QUE EM REGOZIJO A DATA FOI CUMPRIMENTAR OS ILUSTRES ANIVERSARIANTES. AS NOVE HORAS NA IGREJA MATRIZ TEVE LOGAR A BÊNÇÃO DAS ALIANÇAS DE PRATA, APÓS MISSA EM AÇÃO DE GRAÇAS, ACOMPANHADA DE EXCELENTE ORQUESTRA, TENDO A SENHORITA ADÉLIA LINDEMBERGUE BULCÃO, CANTANDO “SALUTARIS”. À NOITE HOUVE BANQUETE FAMILIAR E APÓS SUMPTUOSO BAILE, PARA O QUAL OCORREU PRESSUROSA A ELITE CABO-FRIENSE. INÚMERAS FORAM AS PESSOAS QUE COMPARECERAM A CASA DOS ILUSTRES ANIVERSARIANTES, AFIM DE OS CUMPRIMENTAREM(...)”. OS FATOS NARRADOS DÃO A EXATA MEDIDA DA IMPORTÂNCIA CULTURAL E HISTÓRICA DAS BANDAS DE MÚSICA NO CONTEXTO DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS, E, CABO FRIO REFLETE DE FORMA EXTRAORDINÁRIA A RIQUEZA DE UMA TRADIÇÃO QUE NÃO PODE SER SEPULTADA PELA INSENSIBILIDADE.

EM 1937, VIVIA CABO FRIO, O CENÁRIO DE SUA VENTURA. OS JOVENS, POUCAS OPÇÕES TINHAM PARA MANIFESTAR SEUS VOCACIONAIS PENDORES. AS PRINCIPAIS ATRAÇÕES ERAM O CINE RECREIO E O FUTEBOL AOS DOMINGOS. ENTRETENIMENTOS ESSES, QUE NÃO SATISFAZIAM A TODOS. ALGUNS ENSEJAVAM ALGO MAIS QUE ATENDESSE AS SUAS PROPENSÕES: PREENCHER O OCIOSO TEMPO, COM ATIVIDADES AFETAS ÀS TENDÊNCIAS VOCACIONAIS.

ESPELHADOS TALVEZ, EM ANTIGOS ADMIRADORES QUE EXERCITAVAM A ARTE DE INSPIRADOS TALENTOS, PODE-SE SIMPLESMENTE DEDUZIR O GOSTO PELA MÚSICA, QUANDO ALGUNS RAPAZES, VOLTADOS PARA UMA SÓ ASPIRAÇÃO, PROCURARAM O MAESTRO CLODOMIRO GUIMARÃES DE OLIVEIRA, DESEJOSOS QUE ESTE LHES ENSINASSE MÚSICA.

O MAESTRO, SURPRESO POR TÃO DIGNIFICANTE ESCOLHA, AMISTOSAMENTE, RESPONDEU: - ESTOU ENCANTADO COM A OPÇÃO DE VOCÊS. PORÉM, REÚNAM UM GRUPO MAIOR DE AMIGOS E ESTAREI PRONTO PARA ATENDÊ-LOS. - E, LÁ COM SEUS BOTÕES, PENSAVA: - ESPERO QUE TODA ESSA EUFORIA NÃO SEJA FOGO DE PALHA!...

ASSIM, CONCORDADOS, SAÍRAM OS MAIS DECIDIDOS À PROCURA DE NOVOS E INTERESSADOS CANDIDATOS. CONSEGUIRAM VÁRIOS OUTROS COLEGAS E APRESENTARAM-SE AO MAESTRO QUE, CUMPRINDO SUA PROMESSA, OS CONVIDOU A COMPARECER EM SEU LOCAL DE TRABALHO. OU SEJA, NA SUA BARBEARIA, ESTABELECIDA À ANTIGA RUA DO MERCADO 3 A, AVIZINHANDO-SE COM O LARGO SANTO ANTÔNIO.

SATISFEITOS POR TEREM OBTIDO UM NÚMERO MAIOR DE ALUNOS, COMPARECERAM: IGNÁCIO GOMES CORDEIRO, JOSÉ DE AZEVEDO GODINHO, CEZAR RODRIGUES DE CARVALHO, NORIVAL LOPES TRINDADE, AGENOR DOS SANTOS FARIA, CUSTÓDIO SHERMAN, JAIRO DUARTE DE AZEVEDO, SIZENANDO MACEDO SAMPAIO, ALBERTO DOS SANTOS BRANCO (ZEQUINHA BRANCO), ISAÍAS DOS SANTOS BRANCO (JONAS BRANCO), PAULO DA COSTA GUIMARÃES, (PAULO DE PORTULINA) JACY FARIA DE FIGUEIREDO, FRANCISCO MARQUES E FÁBIO SOARES GUIMARÃES.

O MESTRE, ANTE TODA AQUELA ANIMAÇÃO, NÃO TEVE ALTERNATIVA. POR FALTA DE UM LOCAL ADEQUADO, PASSOU A LECIONAR NA SUA PRÓPRIA BARBEARIA, COM AS AULAS TEÓRICAS ATRAVÉS DA ARTINHA, DUAS VEZES POR SEMANA, OU SEJA, ÀS QUARTAS E SEXTAS-FEIRAS, SEMPRE APÓS SEU EXPEDIENTE DE TRABALHO, POIS DESTA FORMA FAVORECIA TAMBÉM, OS ALUNOS QUE TRABALHAVAM DURANTE O DIA.

AS AULAS PROSSEGUIAM A NÍVEL SATISFATÓRIO. OS ALUNOS COMPENETRADOS AO APRENDIZADO E O MAESTRO, POR SUA VEZ, QUE NÃO AVALIZAVA COM MUITO OTIMISMO A LIVRE ESCOLHA DAQUELES MOÇOS, PASSOU A INTERESSAR-SE MAIS PELO ENSINO, DEDICANDO-SE COM AFINCO A SEUS PUPILOS.

A NOTÍCIA NÃO TARDOU A TOMAR CONTA DA CIDADE. OUTROS CANDIDATOS AGRUPARAM-SE A ESTES, PERFAZENDO UM NÚMERO DE ALUNOS: OSVALDO RODRIGUES, VACINHO, MANOEL SILVA, ALOÍZIO MARCELLO, BENEDITO PEREIRA, ASTROGILDO SIMAS, ETC.

O SUCESSO PARECIA FRUTESCER. ALGUNS, COM MAIOR PENDOR VOCACIONAL, FAZIAM-SE NOTAR PELO MESTRE QUE OS OBSERVAVA ATENTAMENTE. E À MEDIDA QUE IAM SOBRESSAINDO UNS SOBRE OS OUTROS, A COBRANÇA ERA MAIS EXIGIDA COM LIÇÕES AO NÍVEL DE EVOLUÍDAS APTIDÕES, AGORA, NO CADERNO DE SOLFEJO.

COM A EVIDÊNCIA DOS MAIS RESSALTADOS, QUE IAM SUPERANDO COM DESENVOLTURA AS LIÇÕES, O MAESTRO SOLICITAVA QUE COMPRASSEM SEUS INSTRUMENTOS. UNS QUERIAM O PISTOM, ESPELHANDO-SE NO GRANDE PISTONISTA MATUNGA. OUTROS MIRAVAM-SE NO EXÍMIO JOÃO DA FAZENDA, COM A ENCANTADORA REQUINTA. ENFIM, CADA QUAL DESEJAVA O INSTRUMENTO DE SUA PAIXÃO, EMBORA O MESTRE, ATRAVÉS DA EXPERIÊNCIA, NÃO CONCORDASSE, INICIALMENTE, COM AS FANTASIOSAS OPÇÕES. PORÉM, COM MUITO JEITO E HABILIDADE, PARA NÃO DISSUADI-LOS, IA AOS POUCOS OS CONSCIENTIZANDO QUAIS OS DE SUAS TENDÊNCIAS.

FOI O CASO DO ALUNO CUSTÓDIO SHERMAN, QUE ERA VIDRADO NO PISTOM. E SEU COMOVIDO PAI, CARLOS SHERMAN, AO VER SEU FILHO DESPONTAR COMO UM DOS MELHORES ALUNOS, LOGO LHE PRESENTEOU UM. CUSTÓDIO, DIANTE DO NOVINHO E RELUZENTE INSTRUMENTO, COMEÇOU A SOPRAR AS PRIMEIRAS E DESAFINADAS NOTAS. E POR MUITO QUE TREINASSE AQUELE ALUNO QUE TANTO DESENVOLVEU NO SOLFEJO, NÃO CORRESPONDIA NO PISTOM, À ALTURA DE DESTACADO TALENTO. SÃO ALGUMAS HISTÓRIAS QUE MARCAM A FUNDAÇÃO DA BANDA DE MÚSICA SANTA HELENA, POSTERIORMENTE, SOCIEDADE MUSICAL SANTA HELENA, HOJE, UM MARCO DA CULTURA EM NOSSO MUNICÍPIO.

POR TANTAS E JUSTIFICADAS RAZÕES, A SEMANA DA MÚSICA ESTÁ PERFEITAMENTE INTEGRADA A NOSSA HISTÓRIA, CONSOLIDANDO O VERDADEIRO LAÇO ENTRE O PASSADO E O FUTURO E UMA COMPONÊNCIA DETERMINANTE DA NOSSA IDENTIDADE, COM A PROTEÇÃO, SALVAGUARDA, E VALORIZAÇÃO DE NOSSAS MAIS CARAS TRADIÇÕES.

TEXTO:

PESQUISA REALIZADA NO LIVRO “TRAJETÓRIA DA SOCIEDADE MUSICAL SANTA HELENA”. AUTOR: CÉLIO MENDES GUIMARÃES - EDITADO EM 1996.

SALA DAS SESSÕES, 09 DE JULHO DE 2007.

ALEXANDRE LUIS SANT’ANNA

VEREADOR-AUTOR